Tudo na vida tem o seu preço.
Negligenciar o tratamento de transtornos de ansiedade também está neste pacote.
Como fere uma crise. Como perder o controle de si é ruim. Mas as coisas parece
que nunca se formam na minha cabeça como uma base de aprendizagem. A ansiedade
não me deixa ver que é ela que está por trás de pequenas oscilações de humor
durante o dia. E quando a coisa estoura, pronto. Já é tarde de mais.
Já venho dizendo há alguns dias
para mim mesmo que estou sentindo uma leve ansiedade, uma inquietude que fica
dentro do meu corpo, que vira uma vontade estranha nos pés de caminhar sem
rumo. Mas no sábado eu me segurei. Durante o almoço com pessoas de bem, tudo
parecia sob controle. Tudo mesmo. Nada parecia tocar aquela sensação gostosa da
paz que é de estar entre gente querida. Mas não.
De repente, depois de termos
comigo, no tal do cigarrinho de depois, eu passei a sentir um quê de incômodo,
mas não sabia dizer exatamente o quê. A coisa foi toando formato e de súbito lá
estavam minhas mãos esfriando e meu estômago querendo se desfazer daquela
refeição tão bem preparada, gostinho de amor. A ansiedade aumentando e eu
acreditando que era a pressão caindo. Talvez fossem os dois juntos, de mãos dadas,
moldando o meu eu que surgiria nos dois dias seguintes. O desconforto do
estômago e a tontura, a tremedeira, o frio por dentro do corpo, tudo estava lá,
germinando. E eu apostando na pressão. Mas acabei por entender que era que
estava ficando ansioso.
Rivotrilei um sublingual e
esperei, deitadinho no chão, no quietinho, esperei a espera para o efeito
começar. E começou. O jardim voltou a ficar verde, as plantas e as flores
voltaram a brilhar naquele jardim que me assistia sucumbir sem mesmo que eu
soubesse o que acontecia. Não sei pontualmente o quê, claro, mas algo estava
fora do lugar. Talvez fosse só minha paz de espírito, que foi se alongar por
aí, para lá de mim.
O dia terminou de passar lindo.
Cuidamos do jardim, cuidamos das plantas e a noite cuidou de nós. A lua
enluarou toda a cena e enfeitou com seu ar prateado nosso triunfo sob o espaço
verde. Que lugar gostoso aquele.
No dia seguinte, eu, crente que
era fortão, passei o domingo de manhã na companhia das mesmas alegrias do dia
anterior. Mas foi chegando mais gente, e mais e mais. E eu lá, acreditando na
força que eu não tenho, mas que naquele momento eu tive. Eu me comportei.
Muitas risadas e muitas conversas. Partes leves e pesadas dos que partilhavam
daquelas xícaras de café de amizade respingavam na minha alma. Ora me faziam
rir, ora me faziam pensar em mim próprio, nas minhas ações. A história do
castelo de areia, daquele que não saiu da planta. A planta que não saia da
cabeça de sua arquiteta. A relação unilateral fadada ao fim. E lá estava eu, de
plateia. Parecia que eram pessoas contanto minha própria história, espalhada em
diversas bocas. Mas ouvi tudo e calei. Quando oportuno, opinei. Às vezes, eu só
queria sair, ir embora, partir. Mas por quê?, eu me questionava. Estava tão bom
ali? Minha adrenalina brincando nos meus pés não entendiam nada disso.
Domingo à noite terminou na rua,
com bar e mais gente. Na mesa, aqueles de antes, mas em volta, mais gente
ainda. Eu estava lá, claramente me convencendo que eu era forte. Escondi até de
mim mesmo o desconforto social. Ansiei e até mesmo tive momentos de querer
levantar e partir. Mas fiquei, eu era forte, pensei. E fui. Fiquei até o fim.
Até que todos juntos se levantaram e seguiram seus rumos. E eu segui o meu, que
não era bem o meu, mas era um rumo que mantinha bom compasso no meu coração.
Ahh, coração, coração. Batendo ora forte, ora fraco, ora lento, ora rápido. Mas
sempre batia. Eu estava vivo e tudo isso faz parte da vida.
Segunda-feira, dia do terror.
Logo pela manhã, acordei com um grito preso na garganta, um grito que eu abafei
e impedi de sair. Gritei para dentro de mim. Era o que tinha que ser feito.
Soltei pequenas pílulas de estresse e descontentamento, percebido de leve por
aqueles que estavam do meu lado. Mas nada de alarmismos. Eu nem mesmo sequer
comentara dos riscos que eu mesmo sofria. Acreditei, com a força da minha
ingenuidade, que tudo passaria jajá. Mas não passou. Foi crescendo. Briguei
pelas pequenas coisas da vida, pelos pequenos planos do dia. Chutei a porta dos
estabelecimentos que precisava ir. Não sorri para ninguém. Não tinha sorrisos
guardados naquele dia.
Então, de volta para casa, achei
que estava seguro, protegido. Consciente de que eu precisava mesmo era relaxar,
preparei para mim mesmo uma bela de uma caipirinha. Desceu gostosa pela
garganta. Pareceu ter mesmo lavado os gritos sufocados que eu escondi. Uma,
duas, três. Até que os planos mudaram. Bem acompanhado, fui a um bar, bem
típico, onde ficássemos à vontade. O mesmo bar do domingo. Lá, comemos,
bebemos. Rimos e fomos felizes. Mas não, algo era crescente em mim. Bastou a
gota d’água para fazer tudo ir pelos ares. Não importa qual gota tenha sido
essa, já estava tudo voando para todos os lados. Meu olhar perdido, não focava,
procurava um certo conforto que não estava naquele lugar. Fomos até a casa de
uma amiga. Lá, mais gente desconhecida. Era para eu ter me sentido acolhido,
porque fizeram de tudo para que fosse assim.
Tentei impedir. Tentei escapar
dali. Consegui. Corri, mas não sabia para onde eu ia. Cheguei em casa, mas não
durei muito tempo. Saí de novo. Andei andei andei e fiz tudo o que eu podia
para me arrepender pelo resto amargo do dia da terça. O feriado que minha paz
tirou para descansar de mim. Nesse episódio maluco, 5 doses do sublingual
rivotril nem fizeram cócegas em mim. Tiraram-me o olhar de loucura. Não me
trouxeram nem um pouco de doçura. Saí às 3h40 para caminhar. Caminhei por uma
hora, e na hora seguinte foi a vez da minha razão sair por aí.
Eu tenho sorte ainda assim de ter
boas companhias. Não gosto de envolver as pessoas nas minhas crises de
ansiedade, de pânico. Mas não consegui evitar. Quando vi, estava feito. E agora
estou aqui, juntando os meus próprios cacos. Está certo e claro, eu não sou
forte, sou fraco. Vou retomar meus remédios depois da aula tensa de amanhã.
Menino lindo do buraquinho na bochecha... você é fofo e me acolheu quando precisei! me deixa também te ouvir, de beijar e te abraçar quando essa coisa louca de ansiedade tentar se apoderar de você. Me dixe tocar seus pés quando digo que vou massageá-los. Não fuja de mim, nem de você. Não fuja e não lute contra sentimentos nobres que insistem em brotar. Errou? Vacilou? Se deixou dominar? e daí? isso já aconteceu com um montão de gente e ainda acontece todos os dias... vamos trabalhar o sorriso nos lábios, a cabeça fresca e o coração pulsando!
ResponderExcluirQuando as palavras são além de tudo um acalento... obrigado Hipermetamorfina!
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