Esses dias, vi um vídeo da radio
uol que listou algumas das frases mais odiadas pelos gays, dessas do tipo “quem
é o homem e quem é a mulher”, “não encontrou a mulher/o homem certa(o)” mimimi.
Está bem escancarado que essas frases são de héteros para gays, quer dizer, são
observações feitas dentro dos meios que não são gays. São modos que o hétero encontra
para enganar-se. Ele acha que dizer essas coisas para um gay é aceitá-lo, que
isso vai torna-lo socialmente mais saudável. Mas não é assim. Quando um hétero fala essas
coisas para um gay, o que ele está fazendo é desacreditar o traço gay. Como não
existem efeitos “reversores” de sexualidade, o hétero acaba só se queimando
mesmo. Não conheço nenhuma história de um gay que ouviu que não tinha
encontrado a mulher certa e depois saiu procurando por ela para a “cura”. Nunca
mesmo. Nem nada parecido e nem similar. Quando o hétero fala isso, ele está
reforçando o machismo de cada dia. Ele pensa que está sendo amigável, mas está
sendo ofensivo, na verdade. Não está respeitando o espaço do outro. Isso não é
novidade entre os gays, não é mesmo? Assim, falar dessas perguntas é
falar do lado do hétero sobre o gay. O que eu gostei da reportagem que eu
assisti é que se trata da linha de gay para gay. Aí, o pessoal solta a língua e
fala umas coisas que seria muito difícil de se dizer para um hétero.
Principalmente porque depois de dizer algo, o gay teria que explicar – e muito –
para o hétero. Não porque este é burro, mas é que ser hétero é uma condição tão
favorecida na sociedade, que o preço que se paga por estar na normatividade é a
cegueira. A maior parte dos héteros não consegue enxergar como isso tudo pode
ser só a reafirmação do heterozismo, o desrespeito ao outro, e o pior: mostra
como esse hétero está cego, trancadinho no mundo dele, que nem fica com vergonha
de falar uma coisa dessas. Ele nem percebe o quão hipócrita ele se torna vestindo
sua boca com tais pensares. E então, caio a pensar novamente
no mesmo ponto que venho pensando desde sei-lá-quando. Quando alguém me fala
uma dessas frases, a tal da “Tem que ser muito macho para fazer o que vocês fazem”. Eu penso,
tem que ser muito homem, não macho. Mas por que é difícil ser gay? Será que é
difícil encontrar outro gay? Será que o pinto cai no chão depois do sexo? Será
que isso e aquilo? Será que um mundo de proposições bizarras? A minha resposta
a isso é: Se é difícil ser gay, a culpa não é do gay, mas do macho. Se o gay
tem que ter muita coragem para ser gay socialmente é porque o macho torna o
simples sexo em um tabu tão grande que é capaz de matar por isso. Se é difícil ser
gay, temos que agradecer ao macho. E quando esse tipo de frase vem da boca de
um macho, isso me soa mais como uma ameaça, do tipo “eu estou no comando e
mandei você ficar trancado no armário, e você saiu porquê? Você está me
desafiando?”
Então, termino este texto com um
agradecimento ao macho que aplica em nós o machismo de cada dia. Obrigado, a
vida sem você seria só rosa, não teria esses tons de vermelho sangue que
escorre dos seus olhos quando olha para mim e que escorre do meu corpo quando
você me agride por eu ser não importa o quê independentemente de você. Obrigado
por ofender-se com a minha existência e fazer a minha vida muito difícil só porque
eu não sou igual a você. Tem que ser macho para ser gay? Não,
tem que ser gay para ser gay. Ser macho é simples, fácil, seguro, barato. É
claro, é um mundo feito por machos, de macho para macho. O mundo para os gays é
como um abridor de latas para canhotos. O canhoto até consegue abrir a lata,
mas precisou se adaptar bruscamente toda a sua vida para abrir uma simples
porra de uma lata. E se abrir a lata é já uma aventura na mão do canhoto, abrir
o armário pelo lado de dentro é pular na cova dos leões.