segunda-feira, 15 de julho de 2013

Dia do Homem (pra quê mesmo?)



O dia do homem é todo dia, numa sociedade de base machista e patriarcal, como é no Brasil e na maioria das sociedades letradas. Qual o sentido de celebrar um dia para o homem? Todas as ações do cotidiano das pessoas já reforçam a supremacia masculina perante a feminina. A data foi recentemente criada, posterior ao Dia da Mulher. Parece-me mais uma contra-palavra do que uma data com intensões de promover a igualdade entre os sexos.
Se pensarmos na lógica do Orgulho Gay, o que temos é um dia que enfatiza que o gay também tem o seu lugar na sociedade. Um lugar que não pode ser exercido graças ao papel hiper ativo dos homens. Como alguém disse e eu gostei, não é um dia para celebrar o fato de ser gay, mas de reivindicações sociais em prol dessa minoria social. É estranho se houvesse o dia do Orgulho Hétero. Não é vergonhoso ser hétero em nossa sociedade. O grupo não precisa de reforços, não precisa sair do armário, não precisa provar que é gente, não precisa nada disso. Os héteros existem e pronto. Eles governam a vida social ainda. Não precisam de políticas de auto-afirmação.
O Dia do Homem pode ser pensado na mesma direção. Por que precisamos de um dia que reforce o caráter masculino se já vivemos em uma sociedade machista, patriarcal? No outro lado da moeda, temos o Dia da Mulher, que celebra a luta da mulher pelo seu reconhecimento na sociedade e seu espaço nela. Mulher é burra, ganha menos, é fraca, é incompetente, fofoqueira, fútil etc. Todos esses aspectos da mulher são posições criadas por homens e adotadas inclusive por milhares de mulheres. Também, você nasce numa sociedade que te diz e te mostra isso o tempo todo, como discordar? Você nasce numa sociedade que diz isso milhões de anos antes de você nascer, como discordar? Existe uma proposta coerente para o dia da mulher, que não se replica na proposta do dia do homem.
Numa pesquisa sem muita profundidade achei isso:

A diretora da Secretaria de Mulheres e Cultura de Paz da UNESCO, Ingeborg Breines, disse que a criação da data é "uma excelente idéia para equilibrar os gêneros".1 Os objetivos principais do Dia Internacional do Homem é melhorar a saúde dos homens (especialmente dos mais jovens), melhorar a relação entre gêneros, promover a igualdade entre gêneros e destacar papéis positivos de homens. É uma ocasião em que homens se reúnem para combater o sexismo e, ao mesmo tempo, celebrar suas conquistas e contribuições na comunidade, na famílias e no casamento, e na criação dos filhos (wikipedia).

Como se quer combater o sexismo fazendo um dia para glorificar o grupo que já tem a força social maior? Como se pretende equilibrar os gêneros se o homem já é o lado mais pesado da balança? Não deveríamos colocar mais peso nos outros pratos para igualar de verdade? Fora a saúde do homem, o resto da argumentação está em torno da questão do gênero. Isso reforça a ideia que coloquei no começo do texto. Celebrar as conquistas e contribuições na sociedade feitas por homens? É claro que foi feita muita coisa por eles, afinal, eles coibiram as mulheres de exercerem suas próprias vidas durante séculos! Alguém tinha que fazer o trabalho, não é?

Na mesma página, temos alguns objetivos, que eu destaco um: “Destacar a discriminação profissional contra os homens nas áreas de serviços sociais, nas atitudes e expectativas sociais e no direito”. Coitados, não? Não consigo aceitar o argumento, a não ser se for para refletir sobre o que eles fazem com as mulheres. Um tipo de “sentiu na pele, né?”.

No Brasil Escola, eu li:

O artigo 1° da Declaração Universal de Direitos Humanos relata:
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.”
O Dia do Homem tem igual importância ao Dia da Mulher, pois ambos têm o seu espaço na sociedade e buscam objetivos semelhantes como a promoção da vida, o bem-estar da família, o cuidado com o meio ambiente e a busca pela saúde física e mental.

Bem, já discordei da necessidade dessa data principalmente no que diz respeito ao gênero, mas aqui ainda existem outros argumentos, como a promoção da VIDA, BEM-ESTAR da FAMÍLIA, SAÚDE FÍSICA E MENTAL. Se pensarmos que os conceitos em caixa alta já são elaborados por homens, é lógico pensar que tais conceitos os confortam bem. É tudo uma construção de homem, feita de homem para homem, e as minorias que se encaixem ou morram. Questão de gênero não é questão de saúde, de bem estar, de desmatamento. Tudo isso é questão social. Não é questão discriminatória dos pobres homens. Ser homem não tem nada a ver com reforçar esses aspectos, no meu ponto de vista.

Na machista G1, filhinha da Globo, tem uma matéria sobre o dia fatídico. Uma foto de uma família e a seguinte legenda: “Para a Professora Nayla Ferreira, no dia do homem, o homenageado tem que cumprir com seu papel de chefe de família (Foto: Marcos Dantas / G1 AM).” É isso, então. Ela não entendeu a razão pelo dia do homem porque ela pensa como um homem. E ela pensa assim porque foram os próprios homens que a ensinaram a pensar assim. Ela, professora, como dizem certos políticos, precisa ser bem casada, porque seu salário não dá para bancar o provedor da família. E a mulher? Não pode ser chefe?

Bom, esse assunto dá pano para manga. Eu vou parando por aqui. Eu sou homem, sou gay, sou maioria às vezes, e às vezes minoria. Não quero esse dia para mim. Eu passo, dispenso. Quem for homem de verdade e souber o que é ser homem de verdade fora da posição machista que comemore. Mas eu duvido que haja. O dia vai mesmo ser celebrado como qualquer domingo: um bando de machos jogando futebol e bebendo cerveja, enquanto as fêmeas cuidam das crias, da limpeza do ninho, da organização da toca. Somos animais, viva o dia do homem.

#Eike pobreza de espírito

Nos últimos tempos, tenho visto noticiado que a fortuna de Eike Batista reduziu consideravelmente de tamanho. No entanto, o cara continua bilionário. Uma pessoa que já teve 27 bilhões de dólares e agora possui apenas poucos bilhões não é um pobre. Bem, eu não conheço a história do empresário, nem sei quais são suas empresas. Leio sempre em manchetes que seu patrimônio está cada vez mais diminuindo e li agora que suas empresas devem 23 bilhões. E então dizem “Eike empobreceu”. Não existem pobres de 5 bilhões de dólares. Não sobraram ‘apenas’ 5 bilhões.
De qualquer forma, não estou nestas linhas para falar do afortunado sob infortúnios. Quero apenas registrar a reação que tenho visto das pessoas. Vejo muita gente feliz com o ‘empobrecimento’ de Eike como se fosse um trunfo, quase que uma vingança particular. Ora, estamos no sistema capitalista. Uns em cima e outros embaixo. Não tenho conhecimento de ninguém que ocupará ao seu trono que esteja ao meu redor, ou ao redor das pessoas que estão ao meu redor, ou ao redor das pessoas que estão ao redor das pessoas que estão ao meu redor, ou ao redor das pessoas que estão ao redor das pessoas... chega, né?
Mas porque celebrar a “pobreza” de Eike? Fazer humor com os fatos da vida é um traço do ser humano e, digamos, uma característica inerente ao brasileiro. É comum vermos tudo, eu disse TUDO virar piadinhas. Mas no fundo, eu vejo que essas piadinhas com o empobrecimento de Eike está cheio de um algo que eu não consigo imaginar o que é. Pessoas brincam na internet com situações típicas das classes menos favorecidas. Coisas que seriam normais, ou ainda que são vergonhosas, são colocadas na rotina do empresário para os internautas se divirtam. É engraçado? Ok, algumas podem ser. Mas porque tanta gente celebra isso? Quem, de fato, está ganhando com isso? Bem, na história com esse Eike aí, eu sei que tem um bom tanto de coisas que podem estar erradas com a política nacional. De qualquer forma, nem todos por aí politizados. Eu, por exemplo, sou muito pouco. Mas estou aí, lendo a tragédia alheia, e lendo o gozo alheio com a tragédia alheia.
Mas por que será que as pessoas se importam tanto? Vou ter que pesquisar muito para entender como o império eikiano chega até mim, como ele me influencia direta e indiretamente. Mas não acredito que eu chegaria ao ponto de me divertir construindo frases que colocam o Eike em situações de pobre. Fiquei pensando se é inveja. Sério mesmo. Será que não é inveja? Daquelas bem breguinhas de vilão de novela mexicana, do tipo “se eu não tenho, fico feliz que você não tenha”. Eu, que não tenho patrimônio algum, penso que se eu perder a mesma porcentagem que ele, eu sim estou lascado. Não ele. Eu e as pessoas ao meu redor, e as ao redor das que estão ao meu redor.

Bem, termino esse post com essas duas dúvidas centrais: o que significa de fato a pobreza de Eike Batista na minha vida, e por que as pessoas escarnam tanto essa situação? Será que só porque eu não entendo posso chamar aqueles que entendem de invejosos, ou a reação não é cabível mesmo? Não sei de nada. Sei da minha vida e dos meus problemas. E é neles que eu foco minha energia e minhas piadas.