O dia do homem é todo dia,
numa sociedade de base machista e patriarcal, como é no Brasil e na maioria das
sociedades letradas. Qual o sentido de celebrar um dia para o homem? Todas as
ações do cotidiano das pessoas já reforçam a supremacia masculina perante a
feminina. A data foi recentemente criada, posterior ao Dia da Mulher. Parece-me
mais uma contra-palavra do que uma data com intensões de promover a igualdade
entre os sexos.
Se pensarmos na lógica do
Orgulho Gay, o que temos é um dia que enfatiza que o gay também tem o seu lugar
na sociedade. Um lugar que não pode ser exercido graças ao papel hiper ativo
dos homens. Como alguém disse e eu gostei, não é um dia para celebrar o fato de
ser gay, mas de reivindicações sociais em prol dessa minoria social. É estranho
se houvesse o dia do Orgulho Hétero. Não é vergonhoso ser hétero em nossa
sociedade. O grupo não precisa de reforços, não precisa sair do armário, não
precisa provar que é gente, não precisa nada disso. Os héteros existem e
pronto. Eles governam a vida social ainda. Não precisam de políticas de
auto-afirmação.
O Dia do Homem pode ser
pensado na mesma direção. Por que precisamos de um dia que reforce o caráter
masculino se já vivemos em uma sociedade machista, patriarcal? No outro lado da
moeda, temos o Dia da Mulher, que celebra a luta da mulher pelo seu
reconhecimento na sociedade e seu espaço nela. Mulher é burra, ganha menos, é
fraca, é incompetente, fofoqueira, fútil etc. Todos esses aspectos da mulher
são posições criadas por homens e adotadas inclusive por milhares de mulheres.
Também, você nasce numa sociedade que te diz e te mostra isso o tempo todo,
como discordar? Você nasce numa sociedade que diz isso milhões de anos antes de
você nascer, como discordar? Existe uma proposta coerente para o dia da mulher,
que não se replica na proposta do dia do homem.
Numa pesquisa sem muita
profundidade achei isso:
A
diretora da Secretaria de Mulheres e Cultura de Paz da UNESCO,
Ingeborg Breines, disse que a criação da data é "uma excelente idéia para
equilibrar os gêneros".1 Os
objetivos principais do Dia Internacional do Homem é melhorar a saúde dos
homens (especialmente dos mais jovens), melhorar a relação entre gêneros,
promover a igualdade entre gêneros e destacar papéis positivos de homens. É uma
ocasião em que homens se reúnem para combater o sexismo e, ao mesmo tempo, celebrar suas conquistas e contribuições
na comunidade, na famílias e no casamento, e na criação dos filhos (wikipedia).
Como se quer combater o
sexismo fazendo um dia para glorificar o grupo que já tem a força social maior?
Como se pretende equilibrar os gêneros se o homem já é o lado mais pesado da
balança? Não deveríamos colocar mais peso nos outros pratos para igualar de
verdade? Fora a saúde do homem, o resto da argumentação está em torno da
questão do gênero. Isso reforça a ideia que coloquei no começo do texto.
Celebrar as conquistas e contribuições na sociedade feitas por homens? É claro
que foi feita muita coisa por eles, afinal, eles coibiram as mulheres de
exercerem suas próprias vidas durante séculos! Alguém tinha que fazer o
trabalho, não é?
Na mesma página, temos
alguns objetivos, que eu destaco um: “Destacar a discriminação profissional
contra os homens nas áreas de serviços sociais, nas atitudes e expectativas
sociais e no direito”. Coitados, não? Não consigo aceitar o argumento, a
não ser se for para refletir sobre o que eles fazem com as mulheres. Um tipo de
“sentiu na pele, né?”.
No Brasil Escola, eu li:
O
artigo 1° da Declaração Universal de Direitos Humanos relata:
“Todos
os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de
razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de
fraternidade.”
O Dia do Homem tem igual importância ao Dia da Mulher,
pois ambos têm o seu espaço na sociedade e buscam objetivos semelhantes como a
promoção da vida, o bem-estar da família, o cuidado com o meio
ambiente e a busca pela saúde física e mental.
Bem, já discordei da necessidade dessa data
principalmente no que diz respeito ao gênero, mas aqui ainda existem outros
argumentos, como a promoção da VIDA, BEM-ESTAR da FAMÍLIA, SAÚDE FÍSICA E
MENTAL. Se pensarmos que os conceitos em caixa alta já são elaborados por
homens, é lógico pensar que tais conceitos os confortam bem. É tudo uma
construção de homem, feita de homem para homem, e as minorias que se encaixem
ou morram. Questão de gênero não é questão de saúde, de bem estar, de
desmatamento. Tudo isso é questão social. Não é questão discriminatória dos
pobres homens. Ser homem não tem nada a ver com reforçar esses aspectos, no meu
ponto de vista.
Na machista G1, filhinha da Globo, tem uma matéria sobre
o dia fatídico. Uma foto de uma família e a seguinte legenda: “Para a Professora Nayla Ferreira, no dia do homem, o
homenageado tem que cumprir com seu papel de chefe de família (Foto: Marcos
Dantas / G1 AM).” É isso, então. Ela não entendeu a razão pelo dia do homem
porque ela pensa como um homem. E ela pensa assim porque foram os próprios
homens que a ensinaram a pensar assim. Ela, professora, como dizem certos
políticos, precisa ser bem casada, porque seu salário não dá para bancar o
provedor da família. E a mulher? Não pode ser chefe?
Bom, esse assunto dá pano para manga. Eu vou parando por aqui. Eu sou
homem, sou gay, sou maioria às vezes, e às vezes minoria. Não quero esse dia
para mim. Eu passo, dispenso. Quem for homem de verdade e souber o que é ser
homem de verdade fora da posição machista que comemore. Mas eu duvido que haja.
O dia vai mesmo ser celebrado como qualquer domingo: um bando de machos jogando
futebol e bebendo cerveja, enquanto as fêmeas cuidam das crias, da limpeza do
ninho, da organização da toca. Somos animais, viva o dia do homem.