Entrar num consenso parece ser uma das maiores provas da humanidade. Ela nasce como uma ilusão ainda na nossa formação social. Entrar em um acordo é um grande símbolo da resolução de problemas. No entanto, entrar num acordo é ao mesmo tempo muito difícil, porque o acordo em si já pressupõe a desavença. Ou uma das partes está errada ou não existe consenso e e pronto. Para tirar a poeira deste blog, nessa fase difícil da minha vida, de tantas coisas ao mesmo tempo para dar conta, eu vou trasncrever a fala da Regina Casé, no final do "Pé de quê" sobre a criminalização da canabis, emitido pela TV FUTURA, no ano de 2008.
"O Fernando Gabeira fala que se a Canabis fosse uma família, teria dois filhos unidos e separados pela mesma característica genética, o THC. Um dos filhos, com menos índice dessa substância, produz o cânhamo e todos os derivados comerciais e farmacêuticos. O outro filho, devido ao alto teor de THC, produz essa substância psicoativa. Na maioria dos países, a plantação do cânhamo é proibida. É um irmão pagando pelo outro.
No ano 2000, cientistas da Califórnia concluíram que a Canabis provoca câncer, enquanto cientistas ingleses afirmaram que a canabis pode curar o câncer. Nas primeiras décadas do século XX, a canabis era responsável por comportamentos agressivos, e perigosos. Em meados do mesmo século, a canabis passou a representar apatia, desânimo. Muitos dizem que a canabis diminui a libido. Na Índia, ela é considerada afrodisíaca. Se existe uma coisa que a gente pode afirmar sobre a canabis é que não existe consenso sobre ela. Em dez mil anos de convivência com o homem, ela foi tão amada quanto odiada, tão cultivada quanto destruída. Definitivamente, do ponto de vista da canabis, a humanidade deve parecer muito louca, né?"