sexta-feira, 26 de abril de 2013

A paz que deus (não) me deu.


Quem sabe dizer do que se faz o coração? De fibras musculares que fazem pulsar o sangue por todo o corpo? Não é do coração físico, mas do sentimento. Onde esses dois se encontram? Esses dois corações que batem em meu peito? Por que os dois devem bater no peito? Quem decidiu que o coração emoção moraria no peito foi o próprio coração razão. Seria esse um sinal que a razão está sobre a emoção e não o contrário? Sim a resposta é essa. E eu odeio conhecer a razão, dominar a razão, e a emoção ao deusdará. Que deus, o quê. E o que ele dará? Ele tem me dado desgosto só. Tem orientado seu povo na terra contra o amor. Tem orientado o povo na terra a favor dos formatos quadrados, retilíneos, straghts. Eu odeio esse deus. Esse cara que existe na cabeça das pessoas e que diz que ama todos mas que vai me mandar para o Inferno. Eu já estou no inferno, cara. Eu já conheço o calor que faz por aqui. Logo o calor, mais confortável que o frio. Um deus de amor que vive de obstáculos. Um deus platônico, cujo amor é inatingível. Eu me sinto um romântico olhando para esse deus. Por isso escolho meus próprios ídolos. Não adoro ovelhas de ouro, deus sim. Não em formato de ovelhas. Em formato de ouro. Não é de hoje, é de séculos. Eu não acredito no cristianismo. Eu não acredito no formato que ele deu às emoções do ser humano. Eu não acredito no pecado, porque eu não sei dizer o que é certo e o que é errado. Eu mentiria se dissesse que a bondade é o caminho, porque o que eu sei da bondade foi esse mesmo deus quem me ensinou. Eu não confio nele. Essa é a minha profissão de fé. Eu desconfio dele. Eu odeio ter que negar a letra maiúscula cada vez que escreve o substantivo que se refere a ele. Ele. É onde sua letra maísculua cabe. No incício de frase. Eu faria um d bem grande, em formato de minúsculo bem na fuça da frase para mostrar meu descontamento. deus, me deixe em paz, a dita que você tanto quer pregar entre nós. Eu não acredito nos seus propósitos. Você é uma invenção humana, assim como eu, como o amor que late no meu peito. Como o coração que pulsa fora e dentro da minha razão. Eu amo o amor, mesmo sem saber direito quem ELE é. E se não o sei, a culpa é somente Sua, ó deus dos desmisericordiosos. deus dos seres não odiosos. Eu sou odioso, eu sou detestável. Eu sou meu próprio deus, à imagem e semelhança do que eu penso ser sacro para mim. Eu não me conheço, meus sentimentos vivem num poço sem fim. Esses meus sentimentos que muitos anos deus atormentou dizendo que eu não deveria. Ainda existe a ultima hora para o arrependimento. Ainda existe? Eu já não sei se eu quero me arrepender. Eu quero mesmo é mergulhar nessa lama, pois a terra e a água é igual a vida. A vida que esse mesmo deus me nega viver. Meus corações não batem em compasso. Eu não sei a distância do peito até a cabeça. Eu não sei o que o peito e a cabeça fazem juntos. Deus, me liberte de ti, eu te emploro. Deixa-me ser livre. Não me conte das dez regrinhas que você criou. Deixe que eu crie as minhas. Deixe que eu viva por mim e não por você. Deixa eu fazer meu bezerro de ouro, feito de escárnio e mal dizer. Deixa-me ser livre de verdade. Deixa-me o poder do livre arbítrio. Pare com essa farsa de Inês Pereira. Eis a hora derradeira. Se você me ama de verdade, deixa-me viver na sociedade que eu (não) escolhi. Eu (não) sou mais eu. Deixa-me daqui pra frente ser o meu próprio (Des)deus. 

terça-feira, 23 de abril de 2013

Sentidos para o ar


Quando passou o ar, que em si, era diferente

Meus sentidos se cegaram

O breve toque, seu hiato,

O cheiro, alheio, no inverso vácuo

O gosto na minha boca inventado

Só real como a vista

Fogo etéreo, desejo artista,

Ártico filosofista

E como ar que era, em si próprio se desfez

O tato, o olfato, o palato,

O seco, vácuo.

A visão, a audição,

Ah... ilusória desejada sensação


O cara que voa


Lembrar-se dos sonhos tem sido tão raro nos últimos dias... não por falta de produção onírica, mas talvez por não ter mais a mesma capacidade de me recordar das coisas malucas que nos ocorre durante esses momentos que a cabeça finge que para de funcionar. Bem, vamos ao sonho desta noite. O sonho interrompido. Em geral, não temos títulos para sonhos, mas o sonho é meu e eu coloco um para ficar mais especificamente um texto transfigurado de um sonho.

O CARA QUE VOA

Ana Flávia é uma linda mulher, negra, respira afrobrasilidade. Não existe sorriso na terra que passe mais boa sensação que o dela. Não existe alguém para se estar do lado sem sentir-se num sonho. Pois então que em sonho ela me chamou para uma festa afro-brasileira. Eu, certamente, aceitei de pronto. A festa estava lá, era pensar que ela existia e já estávamos nela.
Minha amiga tinha desaparecido temporariamente, afinal, minha mente produzira a festa quase que instantaneamente com o aceite. Assim, ela não teve nem tempo de se aprontar. E não muita gente preenchia o espaço da festa. Um cômodo para ser mais exato. Um cômodo não muito grande e uma música mais batucada. Banquinhos pequenos e baixos espalhados por todos os lados, mas ninguém tomava o acento. Todos ficavam dançando para lá e para cá.
Aos poucos, fui me dando conta que as pessoas iam ficando de roupa branca, tudo foi ficando branco. Até que chegou Ana Flávia. Seu corpo nu, coberto por uma espécie de tinta que dava em sua pele uma textura de um pó sobre ela toda. Menos os cabelos. Esses, negros do contraste, reluziam mais que o branco. Observei que o pálido apagava seu brilho. Ela veio, não olhou e não falou com ninguém. Pôs-se no meio do cômodo numa posição e começou a fazer uns movimentos que me fizeram crer que eu estava diante de uma manifestação artística. Ela começava sua coreografia com um ritmo no corpo que eu não conhecia. Depois de longos minutos, eu me dei conta que eu era o único que olhava para ela, impressionado. Todos ainda simplesmente dançavam.
Fiquei como que hipnotizado pela linda cena que eu via. Ela olhou para mim com uma frase nos olhos: vem dançar. Era como se fosse uma ordem para o meu corpo. Aos poucos fui abaixando também, contorcia-me como se uma serpente se manifestasse dentro de mim aos poucos. Nem cheguei a me abaixar completamente, já tinha subido de novo e já estava entregue ao ritmo dos tambores. Dei-me conta de que eu também usava branco. Eu não me lembro de ter me trocado. Mas é preciso retomar sempre que é um sonho. Em geral, esses que são mais reais precisam desse toque de “pé no chão”.
O ritmo dos tambores já tinha tomado conta de mim e de todos na festa. Mas tudo foi interrompido por um gatuno. Um ladrão, que simplesmente saiu correndo. Eu não vi o que ele roubara, mas todos correram atrás dele dizendo: PEGA!!! Eu dei uns passos andando mais rápido, junto com a multidão. Eu queria fazer algo de bem para aquele lugar que me tratava a alma tão bem. E num passo largo alcei meu voo onírico. Ah, como me fez bem tomar umas lições de voo sonhos atrás.  Voei por entre os galhos de árvore e entendi que estávamos num sítio, ou numa chácara. Estávamos atrás do ladrão. E eu, pelos ares, cheguei primeiro que todos. Era só captura-lo.
Mas algo na fala dele me surpreendeu. Algo que eu não esperava. Eu fora reconhecido. Ele apontou para mim e disse como se tivesse uma plateia para ouvi-lo: Olha o cara que voa de novo! Fiquei com medo de ser reconhecido. Lembro-me de uma sensação de ter feito algo errado e ter sido dedurado. O ladrão conseguiu inverter toda a minha sensação com um dedo apontado para mim no céu. Estava feito, e eu ali voando de volta entre a copa das árvores, fugindo sabe-se lá do quê.
Claro que significa muita coisa, mas durante o sonho não é momento de reflexões de ajuste de personalidade e de medos e ansiedade. Simplesmente corri voando de volta para a festa. Mas não tinha ninguém lá. Parece que todos estavam empenhados na busca do ladrão. E eu não tinha o que fazer a não ser fechar uma janela que estava lá, aberta para mim. Talvez quisesse só fechar porque era tarde, mas agora escrevendo, parece mais ainda que eu queria mesmo era me fechar do mundo.
E eu fechando as janelas, ou aliás – tentando. Quando de repente, não mais que de repente surge uma cabra pela janela. Uma cabra. Simples assim. Um ser caprino, que colocou a cabeça pelo lado de fora e ficou me olhando. Fez um béééééé. E eu pensei: bom, vou ter que fechar a janela mesmo assim, querida. E quando eu tentava fechar, ela enfiava a cabeça pelo vão. Era uma janela verde, dessas que abrem no meio e fecham com uma taramela. E a cabra lá. Quando criei coragem para empurrar com a mão a cabeça dela, surgiu outra. Elas se revezavam para me atrapalhar na árdua missão de fechar o cômodo... Acordei com o telefone tocando.
Os sonhos sempre trazem sentidos ocultos que nos revelam muitas coisas. A cabra eu vi um gif no dia anterior, um que retratava duas cabras inconvenientes. Eu querendo me fechar em mim, e as cabras querendo quebrar meus planos ao meio. Eram duas que se revezavam. Como no gif, duas também. E eu querendo fugir... que parte do meu dia me anda fazendo querer fugir? Acho que preciso pensar...