terça-feira, 29 de junho de 2010

Na Copa, mesmo que o Brasil ganhe, quem sai perdendo é você!

Num período entre a próxima etapa da escrita da dissertação, a produção do plano de estágio, a escrita de artigos para publicação em anais, e outras mil atividades acadêmicas, eis que acontece a copa. Esse evento esportivo, que acende o patriotismo da nação inteira, também dá conta de ofuscar o cenário político, que já não anda lá muito bem das pernas. Como já temos visto de outros carnavais, o momento eleitoral maquia toda a configuração política. É maquiagem em cima de maquiagem. Um dos únicos momentos em que uma expressiva manifestação da democracia brasileira ganha voz, essa voz é abafada pelas propagandas eleitorais [propagandas mesmo] e pelo grande triunfo da nossa nação: uma carta na manga e uma bola no pé.

O que corta o coração pulsante pelo futebol em outros momentos, agora em época de copa, não é capaz nem de arranhar a carapaça criada para resistir às emoções desportivas. Tudo nas cidades de fecham. E em consonância a isso, os olhos do povo também. Menos os de AL e PE, que estão sofrendo com as enchentes. [ATENÇÃO: para alagamento, enchentes e desmoronamentos de residências, consulte WWW.enchentesbrasil.com.br] Pobre deles, que já fazem parte da grande fatia da pobreza no Brasil e agora nem auxílio direito o povo destina. Lembro-me de estar em Salvador e ver mutirão para ajudar a vítimas das chuvas dos primeiros deslizamentos em Santa Catarina. Agora, nem a exploração midiática dá conta de furar o bloqueio dos jogos da copa.

Quero também registrar uma coincidência muito intrigante. Fui convocado para ser presidente de mesa nas eleições de 2010. Os critérios de seleção? Dizem que é porque eu tenho nível superior completo e falta mão-de-obra especializada [em outras áreas] para esse tipo de serviço. Mas, no fundo, senti alguém segurando meu patriotismo e usando contra mim mesmo. Desde que transferi o meu título, passei a ser convocado para prestar meus serviços para a comunidade votante. Não reclamo [reclamo sim!], mas usar como critério de seleção o quesito ‘transferência de títulos para esta zona’ me deixa em dúvida sobre os critérios levados em conta na hora dessa triagem. Bom, meu intento foi registrar o momento sócio-histórico em que vivo nesse momento entre capítulos e de criação de proposta de estágio. Para não dizer que não falei das flores, tenho gostado muito de Margaridas.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Com o cajado dialógico nas mãos

Farol alto não é cajado de Moisés. É a mensagem rápida compartilhada pelo MSN de meu amigo Nilo. Bem, num gesto rápido de improviso, não tão improvável, cruzo com meu conhecimento de mundo. Meu discurso monologizado só tem a tratar comigo [ou o outro de mim] um único e especificamente unitário: a dissertação. Considerando-se a condição atual da dissertação, que é atrasada, a frase de Moisés me faz pensar em pressa. Não do Moisés. Aliás, se não fossem os egípcios, a partida dos hebreus teria sido apenas um longo passeio no bosque de areia.

Isso quer dizer que quem usa farol alto, força a pressa do seguinte. E como ele faz isso? Ele se vale das convenções sociais que ele articula para conseguir mobilizar o outro. Ele articula os conhecimentos necessários para que sua intervenção se efetive. E uma pessoa como essa, com essa capacidade potencial que tem de exercer sobre as outras pessoas, deveriam ser obrigadas a fazer o bem. Mas o que é o bem? Você também acha que um bem que seja coletivo é chamado de utopia? Isso não existe. As sociedades, apesar da globalização, ainda são constituídas por massas e também pessoas influentes dentro de sua própria condição social. Fundo marxista, apoiado. Rs. Vamos lá, então para o fim de uma vez por todas.

É com pressa, é para ontem, com cajado nas mãos, com todos os outros de mim que habitam nesses contextos, que eu renuncio ao sono. Na verdade, ele já até tinha partido, mas agora será muito bem aproveitado. Boa sorte para mim, e que venham posts, porque essa correria toda vai me render muitos desabafos, abafamentos, rs, e afins. Até mais para você e até mais para mim. Fui! ...

domingo, 20 de junho de 2010

O que basta?

As relações se baseiam no sentimento mais incompreendido de todos: o amor. Sendo essa a base de um acordo entre duas pessoas que estabelecem vínculos íntimos, não devemos esperar que a estabilidade seja uma constante nos dia-a-dia. Além do amor, são necessários outros pontos a serem vistos e revistos. Isso nos coloca frente ao desmoronamento do mundo de contos de fada no qual crescemos idealizando: somente o amor não basta.

Uma relação já começa com a promessa de duração eterna. Sempre que o amor pinta tudo, a primeira coisa que o coração fixa na cabeça é que essa é a condição ideal para a felicidade eterna. Mas, como já dito, só o amor não basta. É preciso também muita dedicação. Então, o conceito de relação que vemos aqui pode ser ampliado alem das barreiras do amor. A dissertação que devo escrever será fruto de muita dedicação. Ela também vai me trazer muitas noites sem sono, muitas lágrimas e desespero [como já tem começado a dar sinal de que seria assim, além dos que já passaram por isso e avisaram que assim seria]. E no percurso sofrido eu vou me perguntar: será que eu amo essa dissertação? Com certeza sim. Amo a condição de precisar escrever uma.

Mas só o amor que tenho pelo estudo não basta. É preciso dedicação. Numa relação amorosa, são estabelecidos conceitos e critérios sob os quais tudo deverá trilhar. Numa dissertação existe apenas uma cabeça pensando, retorcendo-se em si e distorcendo as mil vozes da teoria. Na relação, as vozes que são distorcidas são as nossas mesmo. Ora por nós mesmos, ora por outrem, pelo par mais desenvolvido, como diria Vygotsky. Pelo Outro, para Bakhtin. Mas e pra mim? Repensar teorias é mais fácil, parece. Por isso estudo. (?)


terça-feira, 15 de junho de 2010

Gênero cruel

Os gêneros textuais são formas tipificadas de textos que possuem uma determinada função dentro de um contexto específico. Essa definição torna a visão de texto algo mais formal. Ainda que saibamos que os textos existem em outras modalidades (formal, informal, oral, escrito, etc), sempre que temos essa definição, não pensamos primeiramente numa conversa via internet ou sms. Mas até elas são assim. Inclusive, a moda das poucas palavras chegou com tudo depois do twitter. Mas há um gênero que faz as pessoas arrepiarem: a placa de aviso de tempo de apresentação acabando.

Os slides que ainda não foram apresentados são somados e divididos pelo tempo que ainda sobra para terminar. Em geral, são avisados os comunicantes aos últimos três minutos. Assim, se ainda restarem 3 slides para serem apresentados em 3 minutos, você consegue separar um minuto para cada slide. Isso se nenhum deles for um gráfico mirabolante que você deverá explicar. O resultado dessa situação é sempre complicado. O desconcerto vem à tona, o ph do cérebro fica ácido e dá aquele branco. Neste momento, entra em cena o improvável improviso. Se der certo, bem. Se não, tant pis. (bem feito).

Depois de um parto difícil de um gênero textual conhecido por artigo, temos o gênero oral em situação comunicativa formal – apresentação de comunicação em evento científico. Para todos eles, há a escrita, a reescrita, o ensaio da fala, a reorganização, os slides. Tudo isso constante nos momentos anteriores à fala. No durante, os gêneros ‘cara das pessoas’, pontualidade, computador dando pau, luz do projetor fraca, orientadores presentes, e outras ‘condições adversas’ se unem e numa única voz se levantam numa placa contra o comunicante avisando dos últimos segundos de vida. E tudo acaba. Os gêneros textuais podem conter apenas um nanotexto: 3 min. O efeito que ele causa pode anular toda a sua preparação de muitas horas de dedicação. Sorte para quem se virou nos 30. Azar para quem não conseguiu. E no fim de tudo, o gênero ‘cale a boca já’ se sobressai e sempre dá o tom do fim da fala e o sabor das últimas gotas de suor.

domingo, 6 de junho de 2010

Parindo textos

Esperar a gestação de um filho durante, em média, 9 meses pode ser uma tarefa simples, vista por nós homens, uma vez que gerar um filho é resultado de um ato involuntário. Não existe a intenção ou a força da mão de obra de ninguém. Depois que plantamos a semente, o filho vem como uma conseqüência. Muitas dores depois (ou não), nasce um filho que com certeza vai mudar sua vida para sempre [numa visão romântica da maternidade, claro.]! No mundo acadêmico, tenho o hábito de dizer que estou parindo uma dissertação, um artigo, sei la. Estamos, no mestrado, sempre parindo algo.

Para parir um texto, a pessoa precisa de leitura, compreensão dessa leitura, ter um bom nível de escrita para precisar escrever só umas mil vezes a mesma coisa até ficar bom, Às vezes não dormimos, não rendemos, não ficamos satisfeitos mas, vencidos pelo cansaço, deixamos tudo como está. Escrever dói. Mas quando está tudo pronto, vem aquela sensação que enche o peito e vaza pelos olhos. Um dos nossos filhos nasceu! Um texto! Uau! Esse texto vai mudar a vida do autor [...]. Tá, continuar a comparação daqui para frente, na parte que o filho/texto muda para sempre a vida da pessoa.

Bom, estou gerando agora o meu filho mais importante até então. O pródigo, o predileto. Já vem com nome. Dissertação. Esse filho meu vai mudar a minha vida, pois vai marcar um ciclo (eu e meus ciclos). Mas este, apesar de mais importante, não foi o único. Onde está a glória dos textos que já escrevi? Mas isso não é de todo mal. Meus primeiros partos trouxeram à luz textos horríveis. Minha ex-orientadora diz que eu não devo me envergonhar dele porque eu estava no começo do começo do inicio de saber como é fazer uma pesquisa e depois ainda escrever sobre ela. Outra coisa, o filho, gerado em nove meses, é um fluxo. Nós temos é prazo. Tenho exatos 9 meses para acabar meu mestrado, incluindo a defesa e a entrega da versão final. Esse meu filho terá que ser o orgulho do pai.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Pastomancia

A maneira como organizamos as pastas do computador refletem como organizamos o mundo ao nosso redor. Essa organização pode ser um princípio de uma mudança! Quando estava no primeiro ano de faculdade, eu não tinha computador. Mas eu tinha disquetes [pendrive não existia]* e tinha também pastas nos meus e-mails. Ali, eu organizava por disciplina. No ano seguinte, todo o conteúdo iria para uma pasta chamada 1º ano e eu abriria a do segundo ano. Simples assim. Até que eu comecei a participar de eventos. Então, em cada ano, eu teria uma pasta chamada ‘eventos’. Até que eu conheci o Lattes.

O Lattes mudou a minha vida.** Tirei as pastas de eventos de dentro de cada ano e juntei numa pasta grande chamada EVENTOS. Depois, foram surgindo outras subpastas e pastas a partir dessas. Até que tudo isso foi pego e posto numa pasta chamada graduação. Abri outra pasta e coloquei MESTRADO. E foram então pastas referentes às disciplinas. Mas surgiram provas, pré-proposta, fichamentos, textos e tudo o mais. ‘Disciplinas’ agora fica de lado e parece que tudo isso que passou teve seu fim ali.

Mas não. Em outra pasta, dentro do mestrado surgiu a temerosa dissertação. Mas para ser mais preciso que uma agulha, dentro da dissertação, está já organizada pensando no futuro, prevendo as minhas próximas necessidades. Separei já grandes pastas chamadas capítulos. Dentro do 1º capítulo, coloquei os arquivos descrevendo algumas partes do que vou ter que elaborar e já montando um esboço. Viu só? Dá para ver um registro temporal no gênero textual pasta de computador. Sua carga histórica pode ser investigada pela descrição do usuário e por informações fáceis de coletar, como a data de criação das pastas já seria uma ótima proposta de eixo a seguir. Mas no fundo mesmo, é a sensação de que tudo está ficando para trás com uma assustadora fluidez. Isso quer dizer que eu estou interpretando os dados que eu obtive da leitura do gênero pasta e cruzei com as informações sobre o tempo real e cruzar dados. Isso jogou muitos fatos para trás. O tempo está passando. "Iu"!


* Viva a moda e a tecnologia! Graças a ela nós temos a sensação de que tudo está ficando para trás antes do que o de se esperar. É sabor da modernidade. Acho que o próximo passo será o desapego.
** Agradeço ao Lattes pela prova real de que somos submetidos a processos que organiza nossa prática social e à ABNT, que padroniza tudo isso.