sábado, 27 de novembro de 2010

Fuga imóvel

Meus olhos varreram o céu estrelado. Cada brilho no relevo da calada negra é uma estrela perdida no tempo e no espaço, embora esses conceitos existam somente para nós. Mas quem é que sabe onde está se nunca viu nada diferente? Eu vejo uma estrela perdida no espaço mas não vejo o espaço. E mesmo que ele esteja lá, eu nunca o verei com meus próprios olhos. Por isso, vejo o céu estrelado, mas vejo só brilho.

Eu olho para a Lua, dançando sua dança da fita no céu. Eu vejo seus passos seduzindo a vida a brotar no fogo do meu céu. Eu vejo tudo isso de muito longe. E sinto tudo muito suavemente. Estou sob minha árvore de pedra produzindo meu todo abstrato. Eu uivo perdido para a noite em busca de inspiração. O sopro de resposta me beija os ouvidos mas seus sussurros se perdem no ar ao caminho do meu abrigo.

Quisera eu, como os não brancos, que fazem teias de captar os maus sonhos. Faria uma rede em volta de toda minha casa e tudo que estivesse dentro do círculo faria parte de mim. Na Tailândia, Ritos públicos à Lua Cheia. E eu aqui, na minha solitária adoração.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Le Dernie Ours

Camille

Âgé d'une trentaine d'années, atteint d'une maladie de peau, la sarna, la dernière photo de l'ours Camille, prise le 5 février dans la vallée d'Anso en Aragon, où le plantigrade avait établi ses quartiers depuis quelques années, avec la vallée voisine de Roncal en Navarre (il évoluait auparavant en vallée d'Aspe), le montre l'échine pelée. Les appareils à déclenchement automatique éparpillés dans la montagne prenaient jusqu'à plusieurs dizaines de clichés de lui chaque année. Eu égard à la faiblesse de Camille, il est peu probable qu'il se soit déplacé. D'où la funeste conclusion qui s'impose peu à peu. S'il en est ainsi, avec lui c'est le dernier vrai ours des Pyrénées qui s'efface.


Du: Le Monde

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O sonho

Fruto da minha mente – que sempre mostrou-se a meu favor, agora também começava a dar de dedo na minha consciência, o pesadelo que tive essa noite foi particularmente simples. Em geral, meus sonhos, que me levam a lugares inusitados de formas inusitadas, são carregados de um pouco dessa loucura que tento conter enquanto os olhos são alerta. Meu sono parece ser a deixa mor por excelência para que minhas estranhezas escorram por dentro dos olhos, já com o caminho ininterrupto oferecido pela pálpebra fechada. É uma abóbada negra que fico olhando até começar, como se fosse um filme, no cinema. A diferença é que no filme dessa noite, eu não quis pipoquinha para acompanhar.

Era minha defesa. Estavam lá o meu Orientador, duas pessoas que compunham a banca e na plateia a Secretária do programa, linda e sorridente, além de outras pessoas, cujas as faces não me foram reveladas. Depois que eu terminei de expor meus 30 minutos de direito, tudo se modificou como num passe de mágica. Imediatamente depois, estávamos todos nós compondo a típica cena de um julgamento. Alguém que ocupava a poltrona do juiz tinha outra pessoa do lado: os sem-rosto. O Orientador era um poderoso advogado, com o dom das palavras difíceis. Eu em pé, em frente ao juiz, como quem espera a sentença de morte – ou de vida. Eu não sabia, inclusive eu!, se eu era o culpado ou não. Agora me recordando bem, nunca entrou no mérito da questão exatamente o que de errado eu fizera para ser julgado. Mas nem precisava. Era a dissertação a vítima, eu acho. A Secretária estava lá, naquele quadradinho que as testemunhas sentam ao lado do juiz. Ela estava séria. E o Advogado-orientador não calava nunca. Minha angústia crescia... muito.

Acordei, finalmente, como se escapasse da morte abrindo os olhos antes de terminar uma queda onírica, antes de saber se eu seria condenado ou não. Viva a consciência que faz isso com a gente no momento de descanso. Eu queria mesmo era um botão de desligar, mesmo que isso custasse não sonhar nem com as belas paisagens de lugares que eu mesmo inventei. Mas não tem. Não há o que fazer.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Perdendo Beltane

É muito simples perder uma data importante, um compromisso inadiável, uma festa de arromba, um horário no dentista. Tudo isso muito me frusta, me chateia. Mas não tem nada que me deixe mais furioso que perder um bom Beltane. É sempre assim: espera-se um ano até chegar o próximo e quando chega o dia, sempre tem algo que te tira da roda da festividade. Mas comemorar por comemorar simplesmente não tem graça. Precisa ter toda aquela preparação especial, um dia de bons fluidos, uma noite agradável, coisas boas pela cabeça, e tudo mais. Só que acontece que nesses últimos tempos o que eu não tenho tido mesmo - e isso aborta qualquer plano de rito - é paz de espírito. Por quê? Por conta da bendita dissertação. Eu não estou conseguindo fazer a análise. Está muito mil vezes mais difícil do que eu imaginei que seria. MAs é assim mesmo, me dizem todos que já passaram por isso. É assim mesmo e passe por isso também.

Gosto muito desse sabá e é um dos que mais perco. Só fica à deriva mesmo de Litha. É bem no natal cristão aqui no hemisfério norte. Esse ano prometi que montaria a árvore cristã de natal. De todas as minhas partes, essa é uma que tento abandonar. MAs o natal em si não é mais lá grande coisa para mim. E outra: é um inferno essa festividade toda. Mas é parte, imagino.

Bom, a Roda Wiccana não teve post nenhum sobre Beltane. Acho que, na verdade, essa é mais uma tentativa minha mesmo de buscar essa divindade entre um grupo de amigos. Acho que estou encontrando a derradeira hora de entender um pouco mais sobre covens. Eu li, não me lembro no livro de quem, que os covens podem ter vida curta se são fixados somente na relação entre X membros. Um coven é uma parte do desenvolvimento pessoal, apenas. Quando as pessoas passam por essa maturação, elas autormaticamente se colocam em outras buscas. Em outros objetivos que traçam outros caminhos para cada um. É assim mesmo. E talvez eu não esteja no momento de sair em busca de um novo caminho wiccano para mim. Acho que já encontrei o meu. Estou tranquilo e equilibrado, pelo menos nessa parte. Daqui para frente, vou começar a fazer a roda do ano certinho. Vou completar uma roda inteira de esbás e sabás.

Claro, com a dissertação a culminar em fevereiro, vou precisar marcar certinho quando eu pretendo começar. Talvez o mais saudável seja esperar meia roda passar e pegar de Samhaim certinho. Até lá, posso celebrar, fazer meus ritos e magias, mas a contagem mesmo será só lá. E para ver se curo essa perda de Beltane, durante essa semana, eu tento fazer um rito, se der. É o momento de eu mostrar serviço para meu orientador. Então, talvez não dê. Se fosse só o tempo do rito, com certeza daria, mas a Bi sabe como é montar um rito. Dentro do nosso coven, é um exercício de pesquisa, meditação e inspiração. Não dá para fazer brotar um rito assim do nada. Mas vamos ver o que sai.