O momento da escrita é
sagrado. Temos que ter uma coisa dentro de nós, que em geral jorra de tão
abundante, mas que na vida prática não aprendemos a empregar muito bem essa
coisa. Chama-se vontade. Sem ela você não dá um passo. Com ela, mas sem saber
como usar seria o mesmo que andar para trás.
Eu tenho vontades de escrever. Vontade de
escrever coisas diferentes. O meu problema é que eu acabo querendo escrever muitas
coisas ao mesmo tempo, o que não é uma tarefa das mais possíveis. Então, no fim
de um ou dois parágrafos, eu já me sinto cansado de escrever sem rumo e apago
tudo. Pronto, minha escrita foi para o poço do esquecimento.
Ideias nascem e morrem. Mas algumas delas vivem
para sempre. Bem diferente dos meus textos abortados, esses morreram antes
mesmo de viver. Nem sentiram o gosto da vida que é ter um interlocutor. Olha
como cheguei longe. Agora mesmo me passou pela cabeça que eu tenho outras
coisas para fazer, ou que eu posso fazer outras coisas. A vontade passou. Mas
vou insistir até o fim desse parágrafo. Até completar a próxima ideia.
Depois que a vontade some, a gente fica num tipo
de limbo branco, olhando para o espaço na frente, pensando no tudo que foi
escrito e desperdiçado. A cada linha que escrevo, aumento meu prazer, e aumento
a minha dó. Mas não me inspiro a continuar. Depois que a vontade acaba, o
assunto vai caindo, caindo. Até que você não tem ou não quer mais falar. E
então, o texto desfalece de uma vez por todas. Assim como este aqui, que jaz na
certeza do fim de seu último ponto final.