Quando as coisas vão bem, o que se torna difícil? Hoje, um professor
meu fez uma brincadeira comigo, dizendo que eu vivo em crises. Disse que sim,
que era normal de mim. Mas quem não vive em crises?, pensei depois? Ele, será?
Bem, depois de sua provocação, ele em si não importa mais. Importa tudo o que
restou na minha mente inquieta. Preciso de dinheiro, preciso de emprego,
preciso de boas ideias para desenvolver meus projetos e minha pesquisa do
doutorado. Vendo que já estou a caminho de todos esses objetivos, sobram poucas
crises para administrar. Assim, sobra fôlego e intervalo entre elas para
desenvolver esses passos que me faltam dar até chegar a esses objetivos... mas
a pergunta ficou na minha cabeça: por que eu vivo tanto em crise? Nem sei mesmo
se é essa a minha natureza. Acho que nem é. Eu sou conhecido por mim mesmo como
alguém que leva a vida numa boa, como alguém que ama viver e estar vivo.
Confesso que tenho tido tempo e disposição para aproveitar um pouco a vida, mas
também tenho me dedicado duro na missão de me tornar um alguém válido
socialmente o mais rápido possível. Mas o relógio não funciona ao nosso desejo,
nem se dá conta das nossas vontades. A espera é uma das partes da vida que
menos gosto. E esperar por alguém que não chega parece se tornar um pouco da
minha sina. Isso só porque eu é que fico esperando. É ninguém mais do que a
minha própria pessoa que cria a sensação de espera. A expectativa. Todos nós
vivemos melhor sem ela. Eu, que odeio expectativas, estou aqui, cheio delas,
sem saber onde enfiá-las. E eis a minha mais nova crise. Sorte minha eu me amar
o bastante para ter forças para deixar tudo isso para lá. Quando as palavras
que eu escrevo vão se materializando na frente dos meus olhos, eu sinto como se
eu mesmo tirasse de mim um espinho que me atordoa. Eu sou a minha própria cura.
Nada de remédios por hoje, e que esse hoje dure o mais longo dos tempos. Tanta
patifaria de ansiedade, tanto alvoroço, depois tanta morbidez com tanta
medicação, e no fim, estou eu aqui de novo, sendo ninguém mais que eu mesmo, um
alguém em plena crise. Crise que eu posso abdicar, mas não quero. E o professor
lá, com aqueles olhos azuis me falando: você está em crise. Tudo em volta
daqueles faróis vão se apagando e seu rosto vai se modificando, transfigurando.
Os olhos são a janela da alma. A minha não tem janela. Tem uma porta bem larga,
um buraco bem fundo. Um vazio intenso todo preenchido de crises a serem
administradas. Estou para conseguir um trabalho graças à doença de alguém que
será levado a uma mesa de cirurgia, que será impedido de trabalhar por dois
meses. Como eu posso odiar a doença? Seja a minha, seja a do outro, é ela quem
me abre portas, às vezes. O que é bom e o que não é? Nas crises também aprendo.
Hoje, aprendi mais uma lição. Vou respeitar melhor minha condição e viver
melhor comigo mesmo. Afinal, eu me amo, tenho que suportar minha própria companhia.
Pergunta inicial: quando as coisas vão bem, o que se torna difícil? Acho que
minha resposta é lidar comigo se torna difícil, porque quando não estou em
crise, resta-me tempo de sobra para olhar para mim mesmo. Nem sempre gosto do
que vejo. Alguns ajustes precisam ser feitos. Assim seja, assim como está é que
não pode ficar.
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