Que os efeitos do rivotril são
fortes, todos já sabem. Que misturado ao álcool, seu alcance é ainda
intensificado. Chegamos ao sono Rem, Sem, Tem, Vem, Zen. Toda a turma de sonhos
profundos.
Acontece
que acordar durante o efeito que deveria te colocar para dormir se constitui na
grande cilada. Se você se lembrar, se for o caso, o que sua memória disser: 1,
não é confiável; 2, pode ter certeza de que ela apaga um pouco das nuances,
tudo foi mesmo muito mais do que você imagina. Bem, agora vamos à experiência
rivotriliana.
Eu e minha
amiga voltando para nossa casa, de uma viagem que dura em média 11 horas.
Quando temos sorte, fazemos em menor tempo. Mas de qualquer forma, horas e
horas de ônibus é, para mim, um convite a algumas gotinhas mágicas. Elas
simplesmente me transformam em alguém que eu sou, só não exerço. Eu sou calmo
também. Durmo e tudo, menos quando o assunto é viagem. Aí a coisa pega para o
meu lado. E então, peguei eu o frasquinho e gole gole gole... três não, cinco
gotinhas e 20 minutos depois, eu estava lá, apagadíssimo.
Às tantas
da madrugada, o ônibus num desses pit-stops grandes preparados para enfiar a
faca e rodar no bolso do passageiro pobre. Lá estávamos. Eu, minha amiga e as
gotinhas. Eu só me dei conta mesmo do que estava acontecendo quando eu
terminava de beber o suco. Bebi tão rápido que só me dei conta mesmo de tudo o
que acontecia quando ela questionou um “já bebeu tudo?” que me colocou na
realidade. Sim, já bebera tudo. O filho da putinha ainda me seca por dentro. Fico
parecendo a garganta do Saara.
Parada em
Araraquara. Pegar outro ônibus para São Carlos. Vou correndo ao guichê, pois
temos míseros 5 minutos para retirar as malas e comprar as novas passagens.
Dividimos as tarefas. Ela cuidaria das bagagens e eu das passagens. Na fila,
quando chegou minha vez, eu pedi claramente: duas passagens para Maringá, por
favor. E o cara “o quê??”. Eu, com cara de dócil e paciente, mas sem paciência alguma,
expressei pelos cantos das gotinhas o meu mais venenoso MA.RIN.GÁ. E ele
respondeu humildemente um “não fazemos essa rota, senhor”. “Como não?”,
respondi uma arara já. “Eu vim de lá para cá com essa linha de ônibus e agora
não tem mais? Impossível”. Ele, com toda a calma que o cidadão tinha que ter
[eu também, mas não fui tão espirituoso], disse: nós fazemos só o estado de São
Paulo.
Na hora me
toquei que pedia passagens para a cidade errada. “Então me vê duas para São
Carlos mesmo, vai?!” respondi como se tivesse a maior lógica do mundo. O homem
achou estranho, fez cara e tudo, mas preferiu nada comentar. Serviu as
passagens, paguei e fui embora fingindo ter lógica.
Ri melhor
quem Rivotril, uma vez me disseram. Eu sei que fiquei rindo depois comigo mesmo
e com quem mais recontei a história. Confesso que não foi exatamente o que
aconteceu, mas as palavras pedem um tempero que a vida real não tem. Se não,
nem escreveria.
"Ri melhor quem RIvotril!"
ResponderExcluiruhaahuauhauhhuaahu
Amei!
Genial!