Muitos a chamam de droga. De fato, existe uma parte bizarra
da intimidade que as pessoas rejeitam, em geral, que é quando ela se manifesta
por meios mais escatológicos. Flatulências e arrotos a parte, a intimidade é
algo de muito mais positivo que negativo.
Com a intimidade eu
sei o que não só que o outro está à vontade comigo, mas eu também posso medir o
quanto o outro me deixa à vontade ao seu lado. Estar em uma relação, seja de
que natureza for, a convivência é necessária. Tendo isso, a intimidade é
consequência. Estar à vontade para dividir não só as coisas boas ou ruins da
vida, mas as minúcias do cotidiano.
Ao tratar dessa questão, sempre tenho a sensação de estar
falando de ficar grudado a vida toda, fazer todas as coisas juntos, dividir
cada e todo pensamento. Esse é o formato de relação que eu gosto, que eu
estabeleço com os meus iguais, sejam eles amores, amigos, colegas, bichos, espíritos,
loucuras e por aí vai.
De qualquer forma, é a intimidade que me mostra o quão eu
posso ser aceito na rotina de outra pessoa. É a intimidade que me deixa ver que
o outro me aceita, sem precisar concordar comigo, sem precisar melindrar para
me dizer issos e aquilos. A intimidade serve para isso, para otimizar as
relações. Ela é a ponte que faz os sentimentos mais íntimos migrarem de uma
boca para a cabeça outra.
Intimidade, para mim, é algo que vicia. Acordar ao lado de
alguém ver como ela fica descabelada logo cedo, ou como ela se comporta em seus
ritos matinais. Saber o que a irrita, como acorda, como dorme, se sonha em voz
alta, ou se cala na noite escura. Intimidade para confessar os desejos mais sórdidos,
abrir-se e pensar a si próprio, repensar-se. A intimidade é algo que impregna
nas relações e as deixam cheirosas, com gosto de vida vivida. Ela se faz sob os
meus pés como ladrilhos de uma viela pela qual ainda estou passando. Olhando
para o chão, eu vejo onde os passos são íntimos e onde não são. Piso sempre
sobre a intimidade. Ela é um sustento para a alma.
Concluo, pois, reforçando o ditado popular: a intimidade é
uma droga. Ela vicia, me deixa sempre querendo mais. Me deixa pensando nela
durante o dia, me deixa sentindo sua presença ou sua ausência à noite. Minhas
manhãs não são diferentes com ou sem alguém. Elas mudam sim, com a
presença/ausência das pessoas ao meu redor, mas elas mexem na minha dinâmica,
apenas. Não me seguram, não me impedem. Elas me impulsionam. Eu sou viciado em
intimidades. E cá para nós, eu sou íntimo de muita gente por aí. Cada uma
dessas intimidades me dá uma relação diferente. A intimidade é o meu termômetro
de bem-estar. Eu, que fujo de gente desconhecida sempre, uso esse artefato das
relações como um termômetro de bem-estar. Estou bem se estou íntimo. Se estou
distante, eu não estou nem mais eu. Portanto, não estou nem mais aí.
Uau! Nossas conversas te inspiram! Gosto disso!
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