quarta-feira, 22 de maio de 2013

Droga da Intimidade


Muitos a chamam de droga. De fato, existe uma parte bizarra da intimidade que as pessoas rejeitam, em geral, que é quando ela se manifesta por meios mais escatológicos. Flatulências e arrotos a parte, a intimidade é algo de muito mais positivo que negativo.
Com a intimidade eu sei o que não só que o outro está à vontade comigo, mas eu também posso medir o quanto o outro me deixa à vontade ao seu lado. Estar em uma relação, seja de que natureza for, a convivência é necessária. Tendo isso, a intimidade é consequência. Estar à vontade para dividir não só as coisas boas ou ruins da vida, mas as minúcias do cotidiano.

Ao tratar dessa questão, sempre tenho a sensação de estar falando de ficar grudado a vida toda, fazer todas as coisas juntos, dividir cada e todo pensamento. Esse é o formato de relação que eu gosto, que eu estabeleço com os meus iguais, sejam eles amores, amigos, colegas, bichos, espíritos, loucuras e por aí vai.

De qualquer forma, é a intimidade que me mostra o quão eu posso ser aceito na rotina de outra pessoa. É a intimidade que me deixa ver que o outro me aceita, sem precisar concordar comigo, sem precisar melindrar para me dizer issos e aquilos. A intimidade serve para isso, para otimizar as relações. Ela é a ponte que faz os sentimentos mais íntimos migrarem de uma boca para a cabeça outra.

Intimidade, para mim, é algo que vicia. Acordar ao lado de alguém ver como ela fica descabelada logo cedo, ou como ela se comporta em seus ritos matinais. Saber o que a irrita, como acorda, como dorme, se sonha em voz alta, ou se cala na noite escura. Intimidade para confessar os desejos mais sórdidos, abrir-se e pensar a si próprio, repensar-se. A intimidade é algo que impregna nas relações e as deixam cheirosas, com gosto de vida vivida. Ela se faz sob os meus pés como ladrilhos de uma viela pela qual ainda estou passando. Olhando para o chão, eu vejo onde os passos são íntimos e onde não são. Piso sempre sobre a intimidade. Ela é um sustento para a alma.

Concluo, pois, reforçando o ditado popular: a intimidade é uma droga. Ela vicia, me deixa sempre querendo mais. Me deixa pensando nela durante o dia, me deixa sentindo sua presença ou sua ausência à noite. Minhas manhãs não são diferentes com ou sem alguém. Elas mudam sim, com a presença/ausência das pessoas ao meu redor, mas elas mexem na minha dinâmica, apenas. Não me seguram, não me impedem. Elas me impulsionam. Eu sou viciado em intimidades. E cá para nós, eu sou íntimo de muita gente por aí. Cada uma dessas intimidades me dá uma relação diferente. A intimidade é o meu termômetro de bem-estar. Eu, que fujo de gente desconhecida sempre, uso esse artefato das relações como um termômetro de bem-estar. Estou bem se estou íntimo. Se estou distante, eu não estou nem mais eu. Portanto, não estou nem mais aí. 

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