sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Exaustão

A mente, inquieta, finge não me consumir enquanto repassa em sua tela imaginária todos os percursos que não tracei e todos aqueles que trilhei de olhos fechados. Os passos embebidos da minha certeza já não contam mais com uma migalha da minha atenção inconsciente. Agora, que sussuro para mim mesmo à beira de minha estafa, crio dentro de mim uma força oposta em direção à luz. Mas é artificial. Não a luz, mas o desejo por ela. Atrás dos meus brilham as vontades de escuridão, de ninho, do útero.

Se sempre estou no campo, correndo atrás do plantio, cuidando das minhas mudas, fazendo-as crescer, porque pareço não saber que um dia virá sua estação de frutos? Parece-me seca a missão e, portanto, ingrata. Se sou árvore, quais são os pássaros que se alimentam dos meus frutos? Quem vem pousar nas minhas flores e provar meu nectar?

Um sorriso largo, extremo, amplo, me invade a boca seca. Sem um contexto, me vejo à beira da loucura. Talvez enlouqueça mesmo. Mas talvez não. Tenho que traçar meus planos, porque se a loucura não vier, eu vou precisar dar conta de tudo ainda. Antes ficasse louco, e jogasse tudo para cima. Ou que venham os ´pássaros dar sentido aos frutos que brotei de mim.

Mas só me resta agora a estafa. A força física reside na minha casa das máquinas. É pena (para mim) não ser ela meu combustivel. Para que lugares terei de ir se quiser alimentar a minha mente? Exausto, eu desisto de pensar, e as palavras me pesam os olhos abstratos. No físico, estou aqui: alerta como a coruja na calada da noite, à espreita, com o pio na ponta do bico desferindo medos aos passantes. Ouço o chamado. Desligo.

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