segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O desespero [fragmento]



Tento passar despercebido por entre as sombras que longe traçavam seu negro rastro sob a rua já quase vazia. Desvio das folhas secas sedentas de beijar meu pé e oferecer o estalo desse beijo aos ouvidos atentos daquelas paredes vivas. Tudo parece pulsar sobre mim. Ao passo da dança que o vento impunha à minha roupa, mais leve e folgada, também recaiu meu medo. O farfalhar dos tecidos roçando ardiam na minha cabeça como um alerta contra a direção errada.

Olho, ainda incrédulo, para o rumo que eu deveria ter tomado. Olho cego, nada atento. O pavor ainda faz gemer os pelos ao fio da pele. Fazia calor, não era frio. Meu sangue ruborizou toda a pele branca. É o humano animal e o social de mãos dadas. O corpo responde ao social no rubor e no desespero. Somos meio homens meio animal.

As relfexões não levavam a nada. Não me moviam. Corri em silêncio de mente durante algumas quadras. Ainda que desconhecesse tal capacidade em mim, estava feliz por ter me metido longe daquela cena fúnebre. Mas nada disso ainda adiantava. Estava lá, no nó da garganta. No importa aonde eu fosse, sentiria isso quando chegasse. Pareço o casulo do mal. A semente proibida. Por isso me calo. Para que eu não envenene o ar imaculado do qual só os nobres e os puros desfrutam.

Guilherme Duran

Nenhum comentário:

Postar um comentário