segunda-feira, 7 de maio de 2012

Vivemos morrendo


Existe um processo pelo qual todo ser vivo passa. Um processo linear e ininterrupto, como a relação de causa e efeito. Nascemos para um dia morrer. Essa é a fortuna de toda a vida. Envelheço pelos pés que agora preferem os sapatos, que não estrangulam mais os meus tornozelos, como os tênis joviais do século XXI, o seguinte. Vejo minha pele perder o viço, os sulcos nela ganhando contornos cada vez mais nítidos. Nunca antes irritada, hoje já me brotam coceiras pelo corpo, aparentemente sem motivo algum.  É o tempo, uma voz bate no fundo dos olhos, também de pouco em pouco mais fracos, continuamente. A vida é breve, curta.
Depois de muito tempo gostando de correr atrás do próprio rumo, acabo por perceber que tudo o que se conseguiu foi sobreviver. Mas até quando. Até o fim da vida, certamente. Por isso os sonhos são fugazes. Duram uma noite, o tempo de um sono. Não existem nos olhos abertos, na consciência ativa. Não existem que se não mesmo só para nós, e cada um o seu, sem nem compartilhar. Viver, viver, viver, viver, pulsando por dentro. É a vista otimista sobre o processo.  Não é vivendo que se caminha, mas morrendo. E assim eu vou, rumo ao fim de tudo isso, não como queira, mas como posso. Se é que posso além de sobreviver.

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