sexta-feira, 4 de março de 2011

VAGO

Nunca tive mesmo a cabeça no lugar. Hoje, estou aqui, me perguntando se eu tivesse tomado outras decisões. Mas no fundo da alma ele sabia que tinha dado naquilo que previra. Previu-se no passado. Sentiu aquele medo de não deixar rastros. Por isso escreva seus livros. Tinha amigos. Faria falta a alguns com quem convivia, mas não teria sido dado como morto em nenhuma linhagem. Fazia história dos antepassados de pedras e durezas vividamente sofridas. De tempos passados e terras percorridas. Errante, errado. Eu estava lá, entorpecido pelos caminhos que não tracei quando dei-me já aqui.
E onde estariam todos? Todos os iniciados na vida na terra, sendo passados pelo fio da vida, assim como eu. E do mesmo modo que se aproxima minha hora, a de todos também caminha comigo. Será que eu conheceria os que descendem do meu sangue, mas não de mim. E como estariam? Senti o gosto de voltar para casa e saber quem são. Talvez ainda volte, nessa vida, ou noutra.
Olhei os livros e lembrei de um bom tempo da minha vida. Tentei sentir o sabor da vida que tive quando nunca era responsavel por meus passos. Ver-me de perto assim, de fora, fez assim de mim, meio rocha, meio homem feito de ar.
O cheiro do café que eu fiz por tantos e há tantos anos atras ainda era o mesmo. Eu era eu. sempre fui. Fui eu sentindo minha existência pelo cheiro do café, pelo gosto do doce do bolo, o gosto e o desgosto. Pelas letras corridas pelos olhos. Pelas tantas histórias vividas. Eu era uma parte apenas de mim. Ainda sou assim. Perdido aos quatro cantos do mundo, fragmentado em goles de existência que, na verdade, nunca esteve sob meu controle. É um nó que sou, que fui com o que eu era, roçando tudo isso dentro de mim. O espaço era vago. Eu, penumbra, livros, café. Meu sorriso infalível me dizia que eu estava bem. Eu e o tal do outro de mim. Sempre fui assim. Talvez sempre serei. Não que eu tivesse tentado, mas quem é que consegue fugir ao seu destino?
ê vida, que passa com o tempo... o que viria ainda por acontecer? De que maneira a vida me surpreenderia ? Com a surpresa do não ineditismo? Não creio. Se somos resultados de nossas leituras, lemos sempre e a todo instante.... mas na garganta, eu sentia o mesmo gosto de sempre. O proprio sabor do meu tempo. Ainda que em fragmentos, me senti tão uno, um só.... deve ser minha veia egoista. Mas quantos gostos... quantos!...

Nenhum comentário:

Postar um comentário