terça-feira, 7 de setembro de 2010

Versinhos de 7 de setembro

Hoje é 7 de setembro. E eu aqui em mais uma crise nostálgica. Foco: minha infância. É hoje também que faz aniversário uma situação da qual jamais me esquecerei [assim acho]. Na minha época de creche, na segunda metade, mais ou menos precisando em que tempo isso aconteceu, minha professora, a Tia Didi, escolheu minha magra e pequena figura para recitar um versinho de autoria desconhecida. Eu decorei as palavras e ensaiava tentando pronunciá-las de maneira mais clara possível. Dava as entonações necessárias e dignas de uma recitada infantil e desenfreada. Vale lembrar que eu não tinha ainda desabrochado para o mundo artístico, apesar de já ter conhecido o artesanato, a jardinagem [que bem feito, é uma arte – o que não era meu caso] e a mais populares, como livros, filmes e essas manifestações mais acessíveis.

O caso é que os versos não faziam sentido na minha cabeça. – Não que isso fosse me ajudar ou me atrapalhar. Eu já tinha as palavrinhas todas decoradas. Era só esperar meu momento e dizê-las. Mas, num ensaio, a Tia Didi me disse que eu teria que espalmar as mãos para dizer “na brasileira nação”. Ao demonstrar como, ela dobrou os cotovelos e levantou as mãos espalmadas até a altura de seu peito, depois olhou para cima dando uma leve inclinada no pescoço para um dos lados e disse pausadamente. Claro, recusei-me. Ela insistiu e eu cedi no ensaio, mas sabia que não faria isso no ato que se consumaria.

Dito e feito, eu não fiz as mãos que ela tanto queria. Eu fiquei com muita vergonha, porque eu não sabia o que aquelas mãos – tão reveladoras se tivessem sido expressadas por mim, mostrando mais de mim do que eu gostaria enquanto estivesse num palco – tinham a ver com a história, com a frase, ou pedaço de frase. Bom, essa é uma lembrança boba, mas que vai ser carregada na minha cabeça. Acho que eu deveria estar na segunda série quando isso aconteceu. Eu já sabia ler e escrever, mas não tinha uma leitura de verdade, eu decodificava bem. A compreensão nem sempre participava da brincadeira. Encerro com os versos tais.

Dia 7 de setembro
eu não sei porque razão.
É um dia, um dia feriado
na brasileira nação.

Todo povo brasileiro
Fica altivo nesse dia.
A criançada, com gosto,
pulam saltos de alegria*.

Ah, já sei!
Foi dia 7 de setembro
Que raiou a liberdade!
Viva 7 de setembro!
Viva nossa liberdade!

* Eu não tinha nem a noção de que o verbo está errado, pois que deveria ser singularizado, e a repetição pleonástica de pular saltos. É a vida.

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