sexta-feira, 22 de junho de 2012

Brumas da manhã de inverno em Maringá


O sol não se arriscou muito no céu pelo dia. Logo pela manhã, no silêncio humano do fim da madrugada, os insetos noturnos já retornavam de sua longa jornada noturna. Era preciso ir embora antes do aviso dos pássaros. O ar naquela manhã estava bem úmido. Fazia um pouco de frio também. Tudo prometia um inverno bem úmido. Os insetos noturnos se recolheram à medida em que foram substituídos pelos insetos diurnos naquele cenário. E a manhã apenas começando.
Um sopro de tempo se deu naquele instante, e o Sol, ainda oculto pela massa de nuvens no céu, não se manifestou com nem mesmo uma faísca amarela. Estranhamente naquela manhã algo de diferente no clima chegou. Uma neblina invadiu a cidade dos bichos e dos homens e começou a ocultar cada pessoa, cada ser. A neblina seguiu tornando-se densa. Uma densidade alienante. Não se via nada. Não se ouvia também um piu. Parecia que tudo e todos estavam assistindo atentos àquela cena de suspense individual e coletivo.
As brumas tinham mesmo esse poder nas histórias antigas, contadas entre os bichos ainda hoje em dia. Já os homens apenas recontam histórias inventadas no cinema. E as brumas lá, pegando a todos de surpresa.  Um filhotinho de pássaro no seu ninho olhava atônito para sua mamãe pássaro. Pela janela de uma das casas, um par de olhinhos esgueiravam-se rumo ao nada, bem pertinho dele, ao silêncio envolvente das brumas. Os grilos, de pernas caladas, e as pétalas de rosa estavam encharcados de um doce orvalho que cobria de bolhas toda e qualquer superfície que as brumas tocassem.
Aquele momento fora como um chamado individual. Aqueles que apenas temeram e esperaram respeitosamente a situação mudar viveram em paz. Os outros, que aderiram à densa energia vital que corria naquela bruma, esses sim viram que existe alguma coisa além, um quê distante da humanice, um algo a ser descoberto no meio da fumaça. E em troca, a bruma também se alimentou naquele instante dessa conexão com os seres da terra. Essa troca de energias intensificou ainda mais as brumas, causando mais temor e respeito nos que não estabeleciam nada.
De tão intensa que a troca ficou, a bruma se liquefez e virou uma garoa fina fininha. E essa garoa era tão leve que ao sobro da mais suave brisa elas desenhavam no espaço formas caleidoscópicas de padrões inimagináveis. Repararam algumas ratazanas que acompanhavam os primeiros humanos ao trabalho que não era a brisa que movia os padrões de gotículas, mas a energia que elas trocavam quando se entregavam à bruma. Isso mexeu novamente com todos. Desde os que ficaram mais fasncinados pelo evento, os que passaram a respeitar mais ainda, e os que nem perceberam o que acontecia mas tiveram pelo menos que se projeger daquilo que já tinha se tornado uma chuva fina. E a bruma se desfazia à medida em que a chuvinha ia ganhando mais corpo e forma.
Era manhã, o aviso dos pássaros começara a ser dado. Muita alegria, muita cantoria. As pernas dos grilos até se raspavam sem querer de vez em quando ao dançarem sem perceber. Um adulto acordava com esse som enquanto outro se cobria para tentar abafá-lo. A diversidade na vida e no coração estava ali também, exposto, graças à bruma, que agora era uma chuva forte com ventos que ameaçavam os ninhos das aves que se protegiam de seus predadores.
Estava inaugurada a manhã. A partir daquele instante tudo estaria diferente para sempre. Uma bruma dessas não se passa assim por aqui sempre. Era preciso comemorar. A chuva foi passando devagar também. Até que parou de vez e uma família de brisas levou parte das nuvens para longe. O sol, agora, jogava seus primeiros raios do dia em cima das folhas molhadas de suor das árvores. O ar ficara leve e uma onda de bom humor invadia a cidade. E aos poucos, o azul do céu foi se mostrando dentre as nuvens que não passavam de massas rarefeitas de um cinza claro. Um azul esfumaçado brilhou intensamente sob os raios do vigor do sol.
O aviso dos pássaros dado, e tudo no seu devido lugar. A vida estava inaugurada de novo, naquela manhã de inverno.

Um comentário:

  1. Já adoro esse ar e essa cor! Quando eu era criança eu morava em Curitiba. Nas manhãs de inverno meu avô levava eu e minha irmã a pé para a escola. Íamos vencendo a neblina, o frio e quebrando o gelo das folhinhas e das gramas. Tudo muito úmido, cheirando mato verde! (inocência de criança, porque hoje sei que machucava a folhinha, que dó!). Mas, de qualquer forma, é uma lembrança linda e dá pra sentir o cheiro daquelas manhãs quando vejo uma imagem assim...

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